Dinheiro é usado apenas em 20,5% das compras. O fim das cédulas está próximo?
18 de março de 2021


Relatório global de meios de pagamento da FIS, referência em tecnologia para pagamentos eletrônicos, mostra que o dinheiro físico deve ter sua participação reduzida ao mínimo possível nos próximos anos

Em seu mais recente relatório global de tendências de meios de pagamento (The Global Payments Report), obtido com exclusividade pela EXAME, a companhia mostra que até mesmo no Brasil — em que uma a cada três pessoas acima dos 16 anos não tem conta em banco — esse volume caiu significativamente: em 2020, as cédulas foram utilizadas em apenas 35% das transações, ante 47% no ano anterior.

“A preferência pelo uso do dinheiro físico respeita uma equação complexa que envolve aspectos culturais, político-regulatórios, econômicos, tecnológicos e sociais. Enquanto em países como os Estados Unidos (12%) e China (13%) o dinheiro é cada vez menos utilizado, no Brasil está à frente de mercados considerados maduros, como a Alemanha, onde o dinheiro físico ainda é o método de pagamento preferido em 44% das vendas”, afirma Juan Pablo D’Ántiochia, gerente-geral da Worldpay from FIS para a América Latina.

Globalmente, as cédulas foram usadas somente em 20,5% do volume total de transações em pontos de venda. O volume representa queda de 32,1% em relação a 2019.

Na América Latina, o uso de dinheiro em espécie — base do comércio latino-americano — caiu drasticamente (35%) em 2020. Todas as formas de pagamento com cartão tiveram um aumento de participação nos financiamentos de PDV da região em 2020: os cartões de crédito subiram 17% em relação a 2019, atingindo 26,1% dos gastos em 2020, enquanto os cartões de débito chegaram a 23,2% do total de transações.

Fora da região, o financiamento no PDV ganha força, uma vez que o pagamento parcelado passa a ser uma realidade recente. “Empresas como a Klarna e Afterpay crescem a ritmo acelerado ao oferecer soluções de crédito no check-out, algo realmente inovador em alguns mercados onde pagamentos parcelados não eram comuns, como nos Estados Unidos e Reino Unido”, afirma Juan Pablo D’Ántiochia, gerente-geral da Worldpay from FIS para América Latina.

A tendência também é observada pela área de consultoria da Visa. Na visão da empresa de cartões, a implantação de tecnologia de segurança favoreceu as transações virtuais em 2020 e deve continuar se popularizando.

“O débito aqui deve crescer cada vez mais, principalmente na internet. É um ponto que a gente tem fomentado, principalmente o uso dele dentro dos e-commerces e marketplaces. A gente entende que vai ter um equilíbrio maior nos próximos anos”, afirma Oscar Pettezoni, diretor executivo da Visa Consulting & Analytics.

E o Pix?

“O Pix deverá ter uma aderência rápida para qualquer pagamento de baixo valor, como contas mensais e compra de itens pagos atualmente à vista, e deveremos ver empresas oferecendo benefícios para os clientes que optarem pelo Pix, principalmente para pagamentos recorrentes. Contudo, ainda não é uma alternativa para compras de maior valor, normalmente pagas em parcelas. Estas funcionalidades, entretanto, já estão previstas e devem simbolizar uma nova fase do Pix como uma solução viável para pagamentos instantâneos em novas ocasiões e categorias de consumo no Brasil”, afirma Juan.

Fato é que o novo meio de pagamento ganha cada vez mais espaço. Uma pesquisa conduzida no ano passado pela Globo mostrou que o boleto bancário e o dinheiro em espécie serão os meios de pagamento mais afetados pelo Pix.

Em números, os brasileiros pretendem utilizar o Pix como substituto dos seguintes meios de pagamento, em ordem decrescente de menções: boleto bancário (54%), dinheiro (53%), cartão de crédito (49%) e cartão de débito (39%).

Como estar preparado?

“Os comerciantes brasileiros devem buscar ampliar a resiliência de seus negócios oferecendo canais digitais que os permitam vender mesmo em caso de medidas mais restritivas de isolamento e atingir novos mercados através de marketplaces, por exemplo”, afirma Juan.

Migrar para os marketplaces foi uma estratégia adotada por diferentes lojistas durante o último ano. A crise levou o triplo de lojistas por mês para o Magazine Luiza, Mercado Livre e B2W. “A velocidade de expansão do marketplace indica o potencial da plataforma para pequenas e médias empresas”, disse Maurício Salvador, presidente da ABComm.

De acordo com dados apurados pela EXAME, a projeção é de que a fatia dos marketplaces dentro das vendas digitais no Brasil chegue a 48% ainda neste ano. O montante representa um aumento significativo em relação a 2019, quando o percentual era de 35%.

Das vendas ao pagamento, fato é que os hábitos digitais devem permanecer. “A pandemia acelerou um processo já em andamento, e abriu caminhos para consumidores mais conservadores iniciarem um contato com novos métodos de pagamento mais digitais. Quando o usuário entende e acessa meios mais fáceis e seguros para fazer algo, dificilmente retorna aos processos anteriores”, diz D’Antiochia.