As Fintechs eliminarão os bancos tradicionais?
24 de maio de 2021


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A resposta é fácil é bem direta: não. Bancos são tipo plástico. Estão fora de moda, mas não vivemos sem eles. E demoram bastante tempo para desaparecerem mesmo depois de não serem mais utilizados.

Muitos me perguntam se as Fintechs vão substituir os bancos e se eu imagino um futuro sem os grandes bancos. Primeiro, acho importante deixar claro que tenho bastante convicção de que o caminho do digital, do mundo sem portas giratórias, sem filas e sem agências é um caminho sem volta.

E quem ajudou a criar esse mundo, sem dúvida nenhuma, foram as Fintechs. Sem elas, os bancos provavelmente continuariam fazendo o que fazem há centenas de anos: ganhando dinheiro para os acionistas.

Com a chegada dos players digitais, mais rápidos e eficientes, os bancos precisaram se adaptar (e rápido) para não perder mais mercado e tiveram de direcionar recursos que iriam para os acionistas (lucro) para o que os clientes sempre quiseram: melhoria dos serviços, desenvolvimento de produtos mais baratos e eficientes e investir em um atendimento mais digno e melhor.

Além disso, é sempre importante ter em vista que toda a transformação que aconteceu no Brasil foi e é parte de um fenômeno global e sem precedentes em que a tecnologia transformou em poucos anos o mercado financeiro em diversos lugares do mundo. E tudo aconteceu muito rápido, sem um fator motivador único e ao mesmo tempo.

E verdade seja dita: os bancos conseguiram se adaptar razoavelmente bem e numa velocidade impressionante a tudo isso. Quem, como eu, disse em 2017 que transatlântico não dava cavalo de pau, queimou a língua.

Mas é fato, público e notório que os bancos estão num dos momentos mais delicados de sua história. Em abril deste ano, Jamie Dimon, o CEO do JP Morgan, disse em sua carta anual que (i) as Fintechs são uma tremenda e real ameaça para os bancos (ii) as Fintechs vieram para ficar e (iii) as Fintechs fizeram um grande trabalho desenvolvendo produtos fáceis de usar, intuitivos, inteligentes e mais velozes para os clientes. E, por conta disso, os bancos estão desempenhando um papel cada vez menor na sociedade.

Mas acredito que ameaça não significa, necessariamente, extinção e as Fintechs não são o cometa que veio para extinguir os grandes bancos. Isso porque é inegável que os bancos possuem elementos e características que são muito difíceis de se conseguir: marca sólida, brutais ganhos de escala, lucros gigantescos e relacionamento de longo prazo com enorme quantidade de pessoas. Essas características perduram por anos e são espetaculares vantagens competitivas que nenhum novo entrante consegue superar facilmente.

Dessa forma, acredito muito em uma transformação do mercado e com certeza alguns bancos ficaram para trás, assim como diversas Fintechs também irão sucumbir. Não sei se o laranja, o vermelho, o roxo, o amarelo. Se o nacional ou o estrangeiro. Se o privado ou o público. Se o tradicional ou a Fintech. Mas ainda veremos muita gente ficando pelo caminho.

E isso é excelente para o consumidor. Independente de quem forem os ganhadores, o aumento da competição traz inovação e melhora geral do sistema. A começar pela experiência do usuário e pelo atendimento. Hoje, é inegavelmente mais fácil pagar um boleto, solicitar um empréstimo, obter um serviço e realizar uma transferência.

Em seguida, pela redução dos custos. Pagar menos por uma mensalidade ou determinado serviço, obter uma taxa melhor e conseguir melhor rentabilidade pelo seu dinheiro. Depois pelo surgimento de novos produtos e funcionalidades, como o Pix, parcerias entre bancos e empresas de tecnologia e Fintechs e novas modalidades de instituição financeira como a Sociedade Entre Pessoas e a Sociedades de Crédito Direto.

O mercado está evoluindo e, se eu tiver de apostar, diria que os bancos ainda vão existir por muitos e muitos anos. Agora, qual o tamanho e o papel que eles vão desempenhar na sociedade? Essa é uma pergunta difícil de responder.  Se eu tivesse que responder com base na minha experiência de cliente, diria que muitooo menor do que o que eles desempenham hoje.

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Paulo David, colunista do TecMundo, é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores; e é sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer to peer do Brasil, que foi adquirida pela PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa. Atuou na equipe do Pinheiro Neto Advogados, e na equipe da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor anjo em fintechs no Brasil e na Europa.