Creio que todos concordamos que vivemos atualmente em um período de grandes questionamentos de modelos, seja econômico, políticos, sociais ou de consumo. Infelizmente, a paixão das discussões às vezes deixa de lado a análise real se determinado modelo é bom ou ruim e a sensação que tenho é que tudo precisa ser mudado e que a pandemia tem que ser uma grande virada para todas as áreas da vida. Não à toa o World Economic Forum vem promovendo o que eles chamaram de Great Reset.
Focando especificamente nos modelos de consumo, o fato é que já vivemos já há alguns anos um período de grandes mudanças e cheguei a escrever um outro artigo aqui no ano passado, explicando um pouco do conceito Life as a Service, que é a troca da propriedade de diversos itens e produtos do nosso cotidiano pelo uso dos mesmos através de serviços. Um dos exemplos que usei foi do movimento de migração, principalmente nas grandes cidades, da propriedade de automóveis para o uso da serviços como Uber e até mesmo transportes públicos e alternativos (bicicletas e patinetes). Eu mesmo me desfiz do segundo automóvel de nossa família e passei a ser um grande usuário de Uber no dia a dia, além dos grandes percursos de caminhadas, principalmente quando estava sozinho.
Mas e agora, será que estes movimentos de mudanças continuarão da mesma forma e seguindo as mesmas tendências? Este período de pandemia me fez olhar com mais profundidade para diversas coisas do meu cotidiano e da sociedade em que vivo e, ao mesmo tempo que consolidou em mim algumas crenças que eu já possuía, também me fez questionar várias outras coisas. E um destes questionamentos está exatamente na certeza que parece que tínhamos sobre as tendências de consumo.
E quero usar novamente o exemplo do automóvel para ilustrar isso, pois se a tendência era a de possuirmos menos automóveis e usarmos mais o transporte compartilhado, como o Uber, agora com a pandemia e com o medo do contágio (algo que vem sendo inculcado em nós o tempo todo) e a pregação do distanciamento social, será que isso passa a ser factível ou será que as pessoas voltarão ao transporte individual ou familiar, através do automóvel próprio?
Da mesma maneira começamos a questionar outros modelos da economia compartilhada, como aluguel de bens, o Airbnb ao invés dos hotéis tradicionais. E o que dizer então dos movimentos de espaços de coworking ou do crescimento dos empreendimentos corporativos versus o homeoffice, que acabou sendo uma alternativa bem viável para muitas empresas?
Mas ainda assim e apesar das dúvidas, não ouso mais ter certeza de nenhuma tendência de consumo de médio ou de longo prazo, pelo menos por enquanto. Pode ser que passado toda esta turbulência as coisas voltem aos trilhos e o novo normal nem seja tão novo assim, como pode ser também que muita coisa que ainda nem imaginemos mude novamente todas estas mudanças que achamos que estão acontecendo agora.
O fato é que o maior desafio para muitas empresas agora, mais do que manterem suas vendas de curto prazo seja querendo forçar um modelo antigo ou rapidamente tentar se adaptar de qualquer jeito e de maneira definitiva a um novo, é entenderem que talvez não devam se prender a nenhum modelo de maneira estrutural e sim serem flexíveis e adaptáveis.
Se antes relacionávamos empresas lentas e empresas ágeis com elefantes e felinos respectivamente, talvez agora as empresas do futuro precisam ser mais parecidas com camaleões. Quem sabe?