A crise financeira de 2008 arrasou a economia mundial e exigiu uma intervenção sem precedentes dos poderes públicos para apagar o incêndio. Dez anos depois, o crescimento está de volta, mas focos isolados, com um impacto menos devastador, são registrados nos países emergentes.
Em 15 de setembro de 2008, funcionários do Lehman Brothers deixaram cabisbaixos seus escritórios em pleno coração de Manhattan. O centenário banco de negócios acabara de declarar falência, o que provocou uma onda de choque em todo planeta.
Sem condições de pagar as hipotecas, famílias abandonaram suas casas em várias cidades dos Estados Unidos.
Kenneth Polcari, um trader em Wall Street desde 1985, recorda: “Foi muito preocupante, havia uma terrível sensação de tristeza. Você não podia imaginar que isso pudesse acontecer. Estávamos em um mundo diferente, havia descrença, não existiam mais tabus”.
O mundo era completamente diferente antes da crise.
“Os bancos estimularam as pessoas a se endividarem o máximo possível para comprar casas”, conta Gregori Volokhine, da Meerschaert.
Embora não tivessem recursos próprios, as condições eram tão vantajosas “que não havia nenhuma razão para não dar este passo”.
Tudo isto porque o Federal Reserve (Fed, Banco Central americano) mantinha as taxas em um nível muito reduzido para estimular as famílias a pedirem dinheiro emprestado.
Os agentes financeiros elaboravam empréstimos hipotecários a taxas variáveis (os chamados subprime) e os bancos disseminavam os riscos ao revendê-los por pedaços em forma de bônus (CDO, Collateralized Debt Obligation) nos mercados financeiros, com o consentimento das agências de classificação.
Em Wall Street, os bônus e os lucros dispararam tanto que o governo de Bill Clinton revogou em 1999 a lei Glass-Steagall, que separava os bancos de depósitos, que são mais prudentes, dos bancos de investimentos, mais voltados para o risco.
Quando o Fed começou a aumentar suas taxas vigorosamente a partir de 2004, o mercado imobiliário reagiu. As famílias que viram seus empréstimos explodirem ficaram estranguladas. Ninguém mais conseguia crédito.
Diante do pânico, o governo libera 700 bilhões para os bancos, no âmbito do polêmico Programa de Alívio de Ativo Problemático (TARP, na sigla em inglês).
Os grandes bancos centrais decidem agir em consonância, pela primeira vez, reduzindo ao mesmo tempo suas taxas diretrizes, comprando ativos tóxicos de bancos comerciais e injetando liquidez em massa na economia.
Apesar disso, a crise financeira se espalha para a indústria, com a falência da General Motors e da Chrysler.
A corrida dos hedge funds para produtos agrícolas vai amplificar a alta dos preços dos gêneros alimentícios de base, levando a tumultos e protestos em vários países, como Egito, Haiti, Indonésia, Filipinas e Marrocos.
Dez anos depois, a expansão está de volta, ainda que as economias emergentes (Argentina, Rússia, África do Sul, Nigéria, etc.) permanecem frágeis, como mostra o quadro atual na Turquia.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) continua otimista sobre os crescimentos alemão e francês, locomotivas da zona euro, cujo Produto Interno Bruto (PIB) deve chegar a 2,2% em 2018, um dos mais altos desde 2008. O número de desempregados na Espanha – um dos países mais afetados pela crise financeira – caiu em julho, atingindo seu mínimo em quase dez anos.
O Brasil saiu da recessão no ano passado. E, se a conjuntura é pouco pujante na China, a segunda economia mundial, isso se deve, principalmente, às tensões comerciais com os Estados Unidos e à vontade das autoridades de sanear o mercado de crédito.
Em Nova York, a Bolsa bate recordes, e os bancos voltam a registrar lucros mirabolantes.