“A preferência pelo uso do dinheiro físico respeita uma equação complexa que envolve aspectos culturais, político-regulatórios, econômicos, tecnológicos e sociais. Enquanto em países como os Estados Unidos (12%) e China (13%) o dinheiro é cada vez menos utilizado, no Brasil está à frente de mercados considerados maduros, como a Alemanha, onde o dinheiro físico ainda é o método de pagamento preferido em 44% das vendas”, afirma Juan Pablo D’Ántiochia, gerente-geral da Worldpay from FIS para a América Latina.
Globalmente, as cédulas foram usadas somente em 20,5% do volume total de transações em pontos de venda. O volume representa queda de 32,1% em relação a 2019.
Na América Latina, o uso de dinheiro em espécie — base do comércio latino-americano — caiu drasticamente (35%) em 2020. Todas as formas de pagamento com cartão tiveram um aumento de participação nos financiamentos de PDV da região em 2020: os cartões de crédito subiram 17% em relação a 2019, atingindo 26,1% dos gastos em 2020, enquanto os cartões de débito chegaram a 23,2% do total de transações.
Fora da região, o financiamento no PDV ganha força, uma vez que o pagamento parcelado passa a ser uma realidade recente. “Empresas como a Klarna e Afterpay crescem a ritmo acelerado ao oferecer soluções de crédito no check-out, algo realmente inovador em alguns mercados onde pagamentos parcelados não eram comuns, como nos Estados Unidos e Reino Unido”, afirma Juan Pablo D’Ántiochia, gerente-geral da Worldpay from FIS para América Latina.
A tendência também é observada pela área de consultoria da Visa. Na visão da empresa de cartões, a implantação de tecnologia de segurança favoreceu as transações virtuais em 2020 e deve continuar se popularizando.
“O débito aqui deve crescer cada vez mais, principalmente na internet. É um ponto que a gente tem fomentado, principalmente o uso dele dentro dos e-commerces e marketplaces. A gente entende que vai ter um equilíbrio maior nos próximos anos”, afirma Oscar Pettezoni, diretor executivo da Visa Consulting & Analytics.
E o Pix?
“O Pix deverá ter uma aderência rápida para qualquer pagamento de baixo valor, como contas mensais e compra de itens pagos atualmente à vista, e deveremos ver empresas oferecendo benefícios para os clientes que optarem pelo Pix, principalmente para pagamentos recorrentes. Contudo, ainda não é uma alternativa para compras de maior valor, normalmente pagas em parcelas. Estas funcionalidades, entretanto, já estão previstas e devem simbolizar uma nova fase do Pix como uma solução viável para pagamentos instantâneos em novas ocasiões e categorias de consumo no Brasil”, afirma Juan.
Fato é que o novo meio de pagamento ganha cada vez mais espaço. Uma pesquisa conduzida no ano passado pela Globo mostrou que o boleto bancário e o dinheiro em espécie serão os meios de pagamento mais afetados pelo Pix.
Em números, os brasileiros pretendem utilizar o Pix como substituto dos seguintes meios de pagamento, em ordem decrescente de menções: boleto bancário (54%), dinheiro (53%), cartão de crédito (49%) e cartão de débito (39%).
Como estar preparado?
“Os comerciantes brasileiros devem buscar ampliar a resiliência de seus negócios oferecendo canais digitais que os permitam vender mesmo em caso de medidas mais restritivas de isolamento e atingir novos mercados através de marketplaces, por exemplo”, afirma Juan.
Migrar para os marketplaces foi uma estratégia adotada por diferentes lojistas durante o último ano. A crise levou o triplo de lojistas por mês para o Magazine Luiza, Mercado Livre e B2W. “A velocidade de expansão do marketplace indica o potencial da plataforma para pequenas e médias empresas”, disse Maurício Salvador, presidente da ABComm.
De acordo com dados apurados pela EXAME, a projeção é de que a fatia dos marketplaces dentro das vendas digitais no Brasil chegue a 48% ainda neste ano. O montante representa um aumento significativo em relação a 2019, quando o percentual era de 35%.
Das vendas ao pagamento, fato é que os hábitos digitais devem permanecer. “A pandemia acelerou um processo já em andamento, e abriu caminhos para consumidores mais conservadores iniciarem um contato com novos métodos de pagamento mais digitais. Quando o usuário entende e acessa meios mais fáceis e seguros para fazer algo, dificilmente retorna aos processos anteriores”, diz D’Antiochia.