História por Estadão Blue Studio
O Brasil caminha para se tornar um dos principais players globais no cenário da nova digitalização. O passo a passo vem sendo dado de maneira exemplar. O País criou um modelo de leilão das frequências de 5G que foi elogiado em todo o mundo. No momento, vem cumprindo à risca o calendário de expansão das redes. E algumas empresas até já estão utilizando a nova tecnologia para gerar receita e inovação.
Marcelo Zuffo, professor titular da Poli-USP e diretor da InovaUSP, centro de inovação da universidade, explicou que já vêm sendo desenvolvidos pilotos de larga escala nas áreas de segurança, mobilidade e saúde, baseados em 5G, em parceria com empresas como Embratel, Ericsson e Deloitte.
“A universidade terá que pensar junto com a indústria sobre como gerar recursos humanos em proporção maior. Ainda estamos na fase de infraestrutura, e o 5G é um padrão um pouco mais aberto do que o 4G por causa da expansão que traz na conectividade de dispositivos de Internet das Coisas (IoT). E há problemas de software de borda (que fazem o processamento local de enormes quantidades de dados, assegurando ótimo desempenho aos sistemas)”, aponta. “Não é algo que um cientista da computação faça. É um software que tem que ter nuances de telecomunicações por causa da ultrabaixa latência e novos protocolos.”
Para Marcelo da Silva Miguel, diretor executivo de Marketing e Negócios da Embratel, o processo de transformação digital foi acelerado pela pandemia e agora, com o 5G, vai acelerar ainda mais. Os pontos de atenção para que o Brasil ganhe protagonismo no mercado passam por aí. “O primeiro desafio é entender esse processo e mudar o mindset. Nós mesmos firmamos a Embratel como um digital service provider, um enabler, que faz a orquestração e habilitação das soluções”, diz.
Ele afirma que a empresa já trabalha há mais de dois anos entendendo as necessidades de uso dos clientes corporativos. “Dependendo do grau de maturidade das organizações, temos níveis de desenvolvimento e soluções já com 5G bem avançados. Porém, temos muito a aprender, e quanto mais rápido nos estruturarmos e trabalharmos de forma colaborativa com academia, empresas, todos os parceiros, vamos chegar mais rápido nas melhores soluções.”
Tecnologias emergentes
Na área da Indústria 4.0, o Brasil possui muitas empresas que estão evoluídas em processos de automação. Porém, para Miguel, já surge a necessidade de uso de tecnologias emergentes como machine learning (aprendizado de máquinas) e inteligência artificial, ainda não exploradas e com vasta área de aplicação porque serão habilitadas pelo 5G.
O professor Ricardo Janes, da FEI, afirma que o desconhecimento no setor empresarial de tais possibilidades ainda é grande. “Ainda falta essa visão do que é de fato o 5G, que não é só conexão para o celular”, diz. “O empresariado ainda tem que descobrir onde pode implementar em sua indústria, como pode se tornar uma ferramenta para melhorar a competitividade. Ainda existe muita dúvida no mercado. O desafio é mostrar isso desde a microindústria até as multinacionais.”
Uma das áreas de atuação da universidade, que mantém um laboratório avançado de pesquisa de aplicações 5G, diz ele, vem sendo a modernização de máquinas antigas, largamente presentes no parque brasileiro, de forma a reduzir custos e aumentar a produtividade.
Para Paulo Spaccaquerche, da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), o primeiro desafio passa por entender os diversos “Brasis” para realizar um planejamento mais aderente da expansão das redes e seu uso nos negócios, de acordo com o perfil de cada localidade.
“5G não é telefonia. 5G é conectividade, veio para impulsionar uma série de projetos. Toda a parte de novas tecnologias que estão aparecendo, o pessoal precisa absorver e conhecer. E nada disso é importante se você não tiver o entendimento do negócio. Ele deve ser entendido para que você saiba o que usar, como usar e de que forma.”